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Maria Madalena, 65 anos, 2 filhos, 1 neto. Viúva. De São Paulo.

“Se eu tivesse escolha, não teria sido trabalhadora doméstica. Mas foi a única possibilidade para quem nasceu em sítio, cresceu na roça e trabalha desde os nove anos de idade para ajudar os pais. Quando me cansei de fazer tijolo, pedi para trabalhar em casa de patrão. Pelo menos ia ganhar um troquinho. Foi assim que eu saí do meio do mato e fui morar na cidade, aos 16 anos. Fiquei toda deslumbrada achando que ia ter uma vida maravilhosa, mas não foi bem assim que aconteceu.

Eu fazia de tudo, era uma rotina bem puxada, só ia para a casa da minha mãe aos sábados e voltava na segunda-feira bem cedinho. Passei um ano nessa rotina, até que consegui emprego na casa de uma família bem rica como arrumadeira. Tinha empregado para tudo e muita indiferença com os funcionários. Passei só dois meses nesse lugar porque a patroa dispensou todos nós porque uma das meninas estava com umas bolinhas espalhadas pelo corpo e ela achou que a gente ia contaminar a netinha dela. É essa a realidade da trabalhadora doméstica.

Nunca fiquei sem emprego. Paga-se mal, mas sempre tem alguém que precisa de uma trabalhadora doméstica. Talvez por isso eu também nunca parei muito no trabalho. Passei por várias casas, já tive patrão que pegava no meu pé, e outros que queriam exigir que os funcionários ficassem acordados até tarde nas festas servindo eles e se levantasse muito cedo pra limpar tudo. Eu sou pobre, mas não preciso ser escrava. Sempre pensei assim.

Por sorte, também tive uma patroa bem boazinha, a única que registrou a minha carteira. Fiquei bastante tempo com ela e só nos desligamos porque ela se mudou de cidade. Aí entrei numa casa e fiquei 24 anos com eles até me aposentar. Vi os filhos crescerem, se casarem, hoje trabalho só alguns dias por semana, cuidando dos patrões já dois idosos. Tentei parar de trabalhar, mas como a patroa tá doente eu tenho dó.

Apesar de não ter vivido uma vida fácil, eu tenho orgulho de ter criado meus dois filhos como trabalhadora doméstica na raça. Fiquei viúva cedo e dediquei minha vida nessa batalha. Na época da adolescência, minha filha tinha vergonha do meu trabalho, mas, hoje, quando ela me vê atuando no sindicato, acho que a visão dela mudou bastante.

É muito triste ver que ainda existe esse olhar preconceituoso contra as trabalhadoras domésticas, principalmente vindo das patroas ricas. A gente limpa tudo na casa delas, mas elas continuam tendo nojo da gente. Quando digo que não teria sido trabalhadora doméstica se tivesse outra opção, não é porque não gosto do trabalho, mas é porque é muito cansativo e triste não ter reconhecimento. Eu desejo que no futuro isso mude para melhor”.

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