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Severina Maria da Silvia, gosta de ser chamada de Silvia. 62 anos, 2 filhos e três netos, é casada, de Pernambuco.

“Venho de Pernambuco de uma família muito grande. Só lá em casa éramos 10 filhos. Como a gente morava num lugar muito pobre, quem tinha até 4 série já era professora. Minha mãe dava aulas e todos os filhos aprenderam a ler e a escrever com ela. E desde muito novinha, com nove anos, eu já ia para a casa das mulheres para ajudá-las com as coisas de casa em troca de uma sacolinha com alguma comida pra minha família. Eu gostava de trabalhar porque comia coisas diferentes e brincava com outras crianças.

Aos 12 anos fui morar na casa de uma família para trabalhar em tempo integral. Não lembro de ter salário, mas tinha comida e roupa doada. Fiquei quase dois anos nesse primeiro emprego e voltei para a casa dos meus pais. Quando eu tinha 15, acompanhei a minha irmã de mudança para São Paulo. Ela não queria ir sozinha, então eu não tive escolha. Já viemos com emprego fixo dentro da casa de uma patroa.

Naquela época funcionava assim: as patroas mandavam dinheiro para um senhor da minha cidade que ficava responsável de trazer as trabalhadoras domésticas. Da minha família, minhas irmãs estão todas em São Paulo. Sete de nós trabalhamos como trabalhadora doméstica e diarista. Todo mundo seguiu o mesmo passo, não tivemos outras oportunidades.

Eu nunca paro. Ficar desempregada, jamais! Hoje eu não moro mais em casa de família, trabalho das 9h às 17h e gasto duas horas pra ir e outras duas pra voltar. E ainda tem o trabalho da minha própria casa. É uma rotina puxada e, hoje com a idade, sinto que minha saúde começa a dar problemas. Mas não tenho muito do que reclamar não.

Eu fui praticamente criada por essa minha patroa que me recebeu quando eu tinha 15 anos. Eu fazia todo serviço da casa, cuidava da filha dela, tinha muita responsabilidade, mas era uma vida boa pra mim. Nas férias das crianças eu viajava junto, ia à praia com eles. Eu me sentia bem, como se eu fizesse parte da família. Até trabalhei em outros lugares, como office girl em um escritório, mas depois voltei a trabalhar em casa de família.

Sei que muitas das minhas colegas já viveram histórias bem ruins como trabalhadora doméstica, mas eu nunca me senti escravizada não. “Não pisa no meu pé, que não piso no seu”, eu costumo falar. Comigo não tem essa: se escuto algo de que não gosto, eu respondo na lata mesmo. Já tive patrão que não quis registrar meu trabalho, então eu mesma fui pagando o INSS por fora. Eu sou esperta e sei que temos que garantir o amanhã. Tanto que, graças a Deus, agora eu me aposentei.

Ainda faço bicos de faxina, mas eu tenho aproveitado meu tempo fazendo outras coisas, como meus exercícios físicos e as reuniões no sindicato das trabalhadoras domésticas. Agora é a hora da minha vida em que vou me poupar um pouco. Meus filhos já cresceram e estão casados. Tento relaxar porque eu já trabalhei demais.

Não sou de levar desaforo pra casa, por isso eu acho que tenho uma boa história com meus patrões. A nossa profissão está bem melhor do que no tempo que comecei, já não é tão ruim. Eu gosto de limpar a casa, só não gosto que pegue no meu pé”.

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